ainda Lorca...
Túmulo de Lorca
Em ti choramos os outros mortos todos
Os que foram fuzilados em vigílias sem data
Os que se perdem sem nome na sombra das cadeias
Tão ignorados que nem sequer podemos
Perguntar por eles imaginar seu rosto
Choramos sem consolação aqueles que sucumbem
Entre os cornos da raiva sob o peso da força
Não podemos aceitar. O teu sangue não seca
Não repousamos em paz na tua morte
A hora da tua morte continua próxima e veemente
E a terra onde abriram a tua sepultura
É semelhante à ferida que não fecha
O teu sangue não encontrou nem foz nem saída
De Norte a Sul de Leste a Oeste
Estamos vivendo afogados no teu sangue
A lisa cal de cada muro branco
Escreve que tu foste assassinado
Não podemos aceitar. O processo não cessa
Pois nem tu foste poupado à patada da besta
A noite não pode beber nossa tristeza
E por mais que te escondam não ficas sepultado
Sophia de Mello Breyner Andresen, Geografia
6 Comments:
adorei ler
jocas maradas de palavras quentes
Um poema muito profundo, e sobre o qual devemos meditar, meditar sobre a maldade dos homens.
Fica bem.
Manuel
Grande poema de uma grande poeta lusa a um grande poeta andaluz. Gostei muito.
Adorei o gato lá de baixo... adoro gatos, gatinhos e gatões ( falo mesmo dos felinos... ) e também tenho muitas fotos... qq dia aparecem...
Cento baci, buonissime vacanze!!!:)))
Para muita gente a quem as ideias e as palavras incomodam, ainda é uma tentação calar esses incómodos para sempre de forma cobarde e violenta... Só que um poeta como o FGL não se cala nunca, de forma nenhuma. Porque a sua poesia supera todas as maldadezinhas e sacanices ...
ET
Todos somos no mundo «Pedro Sem»,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
(Florbela Espanca)
Curti a visita....
Paulo
Porque nem só de ferias vive o homem. Porque a guerra os leva e ensaguenta esta terra, este Mundo, que um dia quisemos, sonhamos, melhor.
Gostei muito, obrigada.
:)
um beijinho
Van
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