10.5.07

mais um ano sem ti

Aquele dia as águas não gostaram
as mimosas ovelhas, e os cordeiros
o campo encheram d'amorosos gritos.
Não se dependuraram dos salgueiros
as cabras, de tristeza; mas negaram
o pasto a si, e o leite aos cabritos.
Prodígios infinitos
mostrava aquele dia,
quando a Parca queria
princípio dar ao fero caso triste.
E tu também, ó corvo, o descobriste,
quando da mão direita em voz escura,
voando, repetiste
a tirânica lei da morte dura.

Tiónio meu, o Tejo cristalino
e as árvores que tu já desamparaste,
choram o mal de tua ausência eterna.
Não sei porque tão cedo nos deixaste!
Mas foi consentimento do Destino,
por quem o mar e a terra se governa.
E a noite sempiterna,
que tu tão cedo viste,
cruel, acerba e triste,
sequer de tua idade não te dera
que lograras a fresca Primavera?

Não usara connosco tal crueza,
que nem nos montes fera
nem pastor há no campo sem tristeza.

Camões
jornal de poesia