a luz azul
p’la janela entra a luz azul da rua
das cortinas desliza pelo chão
enche o quarto o frio silêncio nu da lua
envolvente em mansa lassidão
tenho em mim ruim pressentimento
de já ter vivido este momento
se estou a sonhar
quando acordar
vou correr o estore
e deixar
a luz entrar
baila sobre o fio brilhante e tentador
um pontinho azul que me seduz
e num gesto exacto e breve
bebo a minha vida em contraluz
tenho em mim ruim pressentimento
de já ter vivido este momento
se estou a sonhar
quando acordar
vou correr o estore
e deixar
a luz entrar
um pontinho azul que me seduz
fecho os olhos e tento não pensar
não pensar
rádio macau, 1987
o quadro: Maria Helena Vieira da Silva, Ariane, 1988
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