e viveram felizes para sempre?
“Um dia a neta mais velha, nove anos feitos há pouco e regressada de um estrangeiro onde sempre tinha vivido, dormiu lá em casa pela primeira vez.
Esmerou-se. O livro mais amado, a história mais romântica, as princesas mais princesas que alguém alguma vez inventara. A neta parece embalada ao som da sua voz e por momentos ela sente-se transportada à magia de tantos anos atrás, à bem-aventurança, e vão casar, e vão ter muitos meninos, e vão ser felizes para sempre.
A neta sorri, a neta gosta de princesas, aos nove anos todas as meninas gostam de princesas e sonham com o príncipe que hão-de encontrar um dia, e…
Os seus românticos devaneios são bruscamente interrompidos pela voz da neta, que lhe pergunta a idade da princesa daquela história. “Idade?”, admira-se ela, “Sim, avó, que idade tem essa princesa que se casou com o príncipe?”, e ela diz que não sabe, mas a menina insiste, “Que idade, avó?”, e então ela diz que deve ter para aí uns 18 anos, ou coisa parecida, nas histórias maravilhosas as princesas casam-se quase sempre aos 18 anos. Então a neta suspira suspira muito fundo e remata: “Vais ver, aos 20 já vai estar divorciada”… E volta-se para o outro lado, adormecendo quase de seguida.
E ela fica muito tempo sentada à beira da cama, com o livro nas mãos, procurando uma palavra (que sabe não existir) onde encaixar o estranho conceito de magia dos dias de hoje.”
excerto de uma estória de Alice Vieira, publicada na Activa deste mês
Esmerou-se. O livro mais amado, a história mais romântica, as princesas mais princesas que alguém alguma vez inventara. A neta parece embalada ao som da sua voz e por momentos ela sente-se transportada à magia de tantos anos atrás, à bem-aventurança, e vão casar, e vão ter muitos meninos, e vão ser felizes para sempre.
A neta sorri, a neta gosta de princesas, aos nove anos todas as meninas gostam de princesas e sonham com o príncipe que hão-de encontrar um dia, e…
Os seus românticos devaneios são bruscamente interrompidos pela voz da neta, que lhe pergunta a idade da princesa daquela história. “Idade?”, admira-se ela, “Sim, avó, que idade tem essa princesa que se casou com o príncipe?”, e ela diz que não sabe, mas a menina insiste, “Que idade, avó?”, e então ela diz que deve ter para aí uns 18 anos, ou coisa parecida, nas histórias maravilhosas as princesas casam-se quase sempre aos 18 anos. Então a neta suspira suspira muito fundo e remata: “Vais ver, aos 20 já vai estar divorciada”… E volta-se para o outro lado, adormecendo quase de seguida.
E ela fica muito tempo sentada à beira da cama, com o livro nas mãos, procurando uma palavra (que sabe não existir) onde encaixar o estranho conceito de magia dos dias de hoje.”
excerto de uma estória de Alice Vieira, publicada na Activa deste mês
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