18.10.07

aracne


"O destino desta donzela é mais um exemplo comprovativo do perigo que se corria quando se reivindicava igualdade com os deuses, fosse qual fosse o pretexto.
Minerva era a tecedeira dos Olimpianos, tal como Vulcano estava encarregado dos trabalhos de ferreiro; era muito natural, portanto, que considerasse as suas obras incomparáveis pela perfeição e pela beleza. Ficou, portanto, fora de si quando ouviu falar de uma simples camponesa chamada Aracne, cujos trabalhos, segundo constava, eram superiores aos seus. Minerva dirigiu-se imediatamente à cabana onde a rapariga vivia e propôs-lhe um desafio. Aracne aceitou.
Prepararam ambas os teares, estenderam a urdidura e começaram a tarefa. Junto de cada uma havia montões de meadas de belas linhas, com todas as cores do arco-íris, e também fios de oiro e de prata. Minerva entregou-se ao trabalho com grande entusiasmo, e o resultado foi uma maravilha; mas a peça de Aracne, terminada ao mesmo tempo, não era em nada inferior.A deusa, então, num acesso de cólera, rasgou a trama de alto abaixo e espancou a rapariga na cabeça com a lançadeira.
Aracne, envergonhada, mortificada, furiosa e irada, acabou por se enforcar. Depois, o coração de Minerva foi tocado pelo arrependimento. Libertou do laço o corpo inerte, borrifou-o com um líquido mágico, e Aracne foi transformada numa aranha, para sempre detentora da perícia e da perfeição máximas da arte de tecer."

in A Mitologia, Edith Hamilton, D. Quixote


















La fábula de Aracne, o Las Hilanderas, Diego Velázquez, 1657

no Museu do Prado